Política monetária e dinâmica macroeconômica: teoria e aplicação à economia brasileira pós-Inflation Targeting
Resumo: Com base nos trabalhos de Rotemberg & Woodford (1991) e King & Wolman (1996), Goodfriend & King (1997) propõem uma recomendação padrão de política monetária, qual seja, a de que o BC deve perseguir uma estabilização da trajetória de preços e/ou de inflação que seja compatível com a minimização do mark-up médio, o que por sua vez corresponderia a uma produção ao nível potencial da economia. Segundo Goodfriend & King (1997), essa política seria ativista, no sentido de que ela deveria controlar a demanda agregada para acomodar qualquer mudança do produto a partir do lado da oferta, além de combater choques pelo lado da demanda.
Portanto, Goodfriend & King (1997) deduzem o princípio de que a política monetária deve estabilizar o mark-up em um nível mínimo, consistente com uma taxa de inflação próxima de zero, princípio esse que está em consonância com os trabalhos de Zhu (1995) e Ireland (1996). Como conseqüência, mudanças no produto, motivadas pela demanda, deveriam ser combatidas pelo BC, o que manteria o produto em seu nível potencial e estabilizaria o nível de preços. Por sua vez, as mudanças de produto que tenham origem em variações de produtividade devem ser acomodadas pelo BC, já que neste caso estaria havendo uma alteração dos níveis de equilíbrio de emprego e produto. Até mesmo os choques de oferta, tais como os choques de petróleo, não colocariam, na visão dos autores, nenhum trade-off face à política monetária, desde que o BC utilize como balizador um índice que exclua os preços mais voláteis.
Goodfriend & King (1997) defendem o que chamam de uma política monetária neutra, qual seja, aquela que estabiliza o mark-up e o custo marginal real em seus níveis ótimos, o que corresponderia a uma estabilização do produto em seu nível potencial. Esta postura da política monetária, na visão dos autores, faria com que o modelo da Nova Síntese se assemelhasse a um modelo de competição monopolística dos ciclos reais de negócios.
A política monetária neutra, portanto, impõe uma estabilidade de preços (ou da inflação) e do mark-up médio ao nível de equilíbrio, fazendo com que o produto fique em seu nível potencial e a inflação dentro de uma meta. Segundo Goodfriend & King (1997), a Nova Síntese teria muito a dizer quanto à implementação do regime de metas de inflação (Inflation Targeting): uma vez que a inflação depende das expectativas de mark-up, a eficácia das metas para inflação dependeria do compromisso do BC com a política monetária neutra, de modo que as expectativas inflacionárias fossem ancoradas em níveis reduzidos (minimizados) de mark-ups esperados. Para tanto, o BC deveria combater choques pelo lado da demanda e acomodar choques pelo lado da oferta (produtividade), o que requer um conhecimento preciso dos valores dos parâmetros e da natureza, magnitude e duração dos choques.
Por sua vez, Clarida, Galí & Gertler (1999) partem da idéia de que a política monetária possui efeitos significativos sobre o nível de atividade econômica, ao menos no curto prazo, mediante a premissa de que existem fatores transitórios de rigidez nominal de preços. Neste sentido, o modelo básico utilizado diverge da literatura sobre ciclos reais de negócios em termos teóricos, embora haja convergência em termos metodológicos, dado o instrumental de equilíbrio intertemporal utilizado. Os resultados dão origem, segundo os autores, a princípios gerais de política monetária, que poderiam ser empregados em uma ampla gama de estados da economia. Neste sentido, poder-se-ia falar numa ciência da política monetária.
Uma formalização interessante do pensamento mainstream sobre política monetária e metas de inflação é o modelo desenvolvido por Ball (1999a), similar aos de Taylor (1994), Hall & Mankiw (1994) e Svensson (1997). Ele possui duas equações - uma equação IS dinâmica e uma curva de Phillips aceleracionista - e enfatiza os efeitos defasados da política monetária e a inércia da inflação. A regra ótima é definida como aquela que minimiza uma soma ponderada das variâncias da inflação e do produto, sendo que os pesos dessas variâncias dependem das preferências das autoridades. Uma regra eficiente é definida como aquela que é ótima para uma dada escolha de pesos.
Ball (1999a) define o regime estrito de metas inflacionárias como o que tenta alcançar a meta fixada o mais rápido possível sem que sejam consideradas as implicações ou perdas para o produto: quando existe um choque que faz a inflação observada divergir da meta, o BC altera a taxa de juros na magnitude necessária para eliminar esse hiato o mais depressa possível.
Por outro lado, no regime amplo ou flexível de metas, o BC também faz a inflação convergir para a meta, porém com menor velocidade, já que são levadas em conta as perdas sociais em termos de produto; logo, após um choque, o ajuste deve ser gradual, e não instantâneo. O regime estrito de metas só se torna eficiente quando as autoridades não concedem nenhum peso à variância do produto. Em Svensson (1997), analisa-se o regime estrito como um regime ótimo para o longo prazo, visto que estaria ausente o trade-off entre inflação e desemprego.
No entanto, no curto prazo existem impactos da política monetária sobre o produto, de modo que é necessária uma flexibilização do regime de metas, a fim de que a convergência da inflação ganhe gradualismo e as perdas de produto sejam minimizadas. Na medida em que haja preocupações com a variância do produto, deve-se buscar alguma flexibilidade ou gradualismo no ajuste, de modo que o regime amplo de metas se torna o recomendável e eficiente. Pode-se dizer que a política ótima de longo prazo deve receber mecanismos adicionais que permitam sua flexibilização e maior eficiência no curto prazo.
Data de início: 01/06/2012
Prazo (meses): 24
Participantes:
Papel | Nome |
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Coordenador | RICARDO RAMALHETE MOREIRA |